Eles vão ser copiados

15/03/2011 09:57

Eles vão ser copiados

Pouco mais de uma década depois, no entanto, os grandes laboratórios atravessam um momento muito distinto – e desafiador.

O fim do século passado foi saudado como a era de ouro para a indústria farmacêutica. Avanços tecnológicos, ganhos de produtividade e lançamentos simultâneos de remédios em diferentes mercados foram fatores que ajudaram a elevar o status do setor como um dos mais rentáveis da economia.

Surgiram substâncias para aplacar alguns dos males mais comuns do homem moderno, tanto físicos (como colesterol e hipertensão) como psíquicos (depressão, ansiedade e disfunção erétil). As farmácias foram tomadas por blockbusters, como o Lípitor, usado para tratamento de colesterol alto, e o Viagra, para disfunção erétil. A americana Pfizer, a fabricante das duas drogas, não tardou a ser alçada ao posto de maior grupo farmacêutico do mundo.

Pouco mais de uma década depois, no entanto, os grandes laboratórios atravessam um momento muito distinto – e desafiador. Até 2012, uma dezena dos medicamentos (*) mais vendidos do mundo deixará de ser protegida por patentes. Na prática, isso significa que eles poderão ser produzidos como genéricos por outros fabricantes e comercializados a preços em média 70% menores.

O surgimento de cópias tão eficazes quanto os originais beneficiará milhões de pessoas ao redor do planeta. Mas é uma notícia que traz uma indagação. Sem os seus atuais Best-sellers e nenhuma grande novidade para ocupar as prateleiras, como os laboratórios farmacêuticos sustentarão os bilhões de dólares gastos em pesquisas? Esse é o segundo setor que mais investe em desenvolvimento de produtos (foram 113 bilhões de dólares em 2009), atrás apenas de computação e eletrônicos.

Estudos apontam que, passado um ano do fim da patente de um medicamento, os genéricos conquistam em média 65% de suas vendas. Essa fatia é ainda maior na medida em que o remédio original é mais caro. No caso de dez dos medicamentos mais vendidos nos Estados Unidos cujas patentes estão para expirar até 2012, a perda anual de receita dos laboratórios deve superar 17 bilhões de dólares. Assim como se beneficiou no ano passado, a Pfizer agora será um das empresas mais afetadas. Apenas o Lípitor, campeão de vendas no mundo, faturou 10,7 bilhões de dólares no último ano, metade do mercado americano.

Os efeitos das perdas das patentes já se fizeram sentir. A Pfizer anunciou que vai reduzir em até 30% suas despesas com pesquisas nos próximos dois anos e fechar seu centro de desenvolvimento em Sandwich, no sul da Inglaterra, como parte das novas estratégias de reorientar seus esforços em inovação e m outras áreas da medicina. Uma triagem que começa com até 10.000 compostos químicos culmina com só uma substância ativa aprovada pelas agências reguladoras.

A patente que assegura exclusividade do remédio vale a partir do pedido de registro nas agências de propriedade intelectual, o que costuma acontecer logo no primeiro ano de desenvolvimento, e estende-se por vinte anos. Isso significa que a janela de comercialização antes da chegada do genérico dura de cinco a dez anos. Ao mesmo tempo, a indústria dos genéricos cresceu em todo o mundo, apertando ainda mais a margem dos grandes laboratórios. No Brasil, por exemplo, já estão disponíveis nas drogarias as verões genéricas do Lípitor e do Viagra.

A nova fronteira para as empresas farmacêuticas é a biotecnologia, com o desenvolvimento de medicamentos a partir de organismos vivos. São os chamados remédios biológicos. É para essa área que afluem os investimentos. E os grandes laboratórios gastam parte de seu caixa para adquirir empresas especializadas nesse ramo. Isso não quer dizer que a química pura será abandonada. Especialistas lembram que existe um amplo campo de doenças sem cura cujo o tratamento pode ser desenvolvido, entre elas Parkinson, Alzheimer e câncer, além de moléstias tropicais, como a malária. Resume Jorge Raimundo, da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa no Brasil (Interfarma): “A inovação é a palavra-chave da indústria farmacêutica e vai guiá-la por muitos e muitos anos. É a descoberta de medicamentos que garante o valor das empresas”.

(*) Medicamentos mais vendidos do mundo deixarão de ser protegidos por patentes:

Plavix
Lípitor
Advair
Seroquel
Zyprexa
Levaquim
Viagra
Concerta
Protonix
Aprovel

Fonte: Veja Marcelo Sakate-14/03/2011