Gaúchos são negligentes no tratamento do diabetes
Gaúchos são negligentes no tratamento do diabetes
Pesquisa aponta falhas no controle do tipo 1, o mais grave da enfermidade
Daniela Santarosa | daniela.santarosa@zerohora.com.br
O maior estudo sobre o Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1, o mais  perigoso) realizado no país revela que apenas 15% dos portadores da  doença controlam a taxa de açúcar no sangue de forma correta. Em Porto  Alegre, a hemoglobina glicada — teste que aponta se o controle glicêmico  foi eficaz nos 90 dias anteriores — apareceu em taxas superiores ao  considerado ideal: 9,4%, enquanto o desejável é 7%.
O  levantamento, realizado por médicos da Sociedade de Diabetes e da  Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) acompanhou 3.591  pacientes em 28 cidades brasileiras por dois anos. Na Capital, foram  entrevistados 490 pacientes do Hospital de Clínicas de Porto Alegre  (HCPA) e do Instituto da Criança com Diabetes.
— Além da falta de  acesso à insulina em postos de saúde, há a falta de aceitação da  doença, que tem um forte impacto na vida de crianças e adolescentes —  explica o endocrinologista do HCPA, Luís Canani, que participou do  estudo coordenado pela endocrinologista Marília de Brito Ramos.
No  diabetes tipo 1, o próprio organismo ataca e destrói as células beta  que produzem o hormônio insulina. Sem esta substância, a glicose não  chega às células, que ficam sem combustível para fabricar energia.
—  Existe uma mudança gradativa no modo como a doença é diagnosticada. Em  cerca de 39% dos pacientes, ela foi descoberta por métodos de rotina,  sem a necessidade de internação hospitalar — ressalta Marília.
Um  dos fatos preocupantes é que a maioria (71,5%) dos entrevistados teve o  diagnóstico antes dos 15 anos, e cerca de 20% antes dos cinco anos. A  idade média que os gaúchos descobrem a doença é aos 12 anos.
O  início precoce é responsável, segundo os pesquisadores, pelo aumento de  chances de problemas crônicos, implicando um maior custo social. Para se  ter uma ideia, o custo de uma internação de quatro dias, usando a  tabela do Sistema Único de Saúde, é de R$ 360. Caso o paciente seja  atendido ambulatoriamente, esse custo seria de R$ 81,80, ou seja, 4,5  vezes menor.
— Detectamos ainda um grave problema, que é a  presença de cetoacidose diabética, complicação aguda da doença que  apresenta risco de vida em 29,6% dos pacientes, principalmente  crianças — alerta Canani.
Os números
:: Porto  Alegre é a segunda cidade com mais diabéticos no país: de cada cem  pessoas entre 30 e 69 anos, nove apresentam a doença.
:: O primeiro diagnóstico ocorre aos 12 anos.
:: 20,6% dos diabéticos estão em idade escolar e 28% são adolescentes.
ZERO HORA
Colaboração: Ricardo